Outro dia estava voltando do trabalho, um pouco depois das cinco da tarde e me dei conta de uma coisa triste:
As pessoas não caminham mais!
Algumas pessoas que convivem comigo sabem que como sou bem impulsiva, principalmente para comprar e isso já me trouxe um bocado de problemas. Levando isso em conta, e o fato de que trabalho desde os meus 16 anos, eu já poderia ter me enfiado em um financiamento de um carro próprio e ficar longos cinco anos pagando a prestação, seguro, estacionamento, combustível, flanelinha, revisão, mecânico, lavagem, troca de carro e tudo que eu escrevi pelo menos três vezes, durante uns 10 anos.
Só que não!
Optei por ter uma vida um pouco diferente. Coloquei metas em minha vida financeira, e só faria uma coisa depois da outra. Iria primeiro fazer uma viagem para a Europa. Depois, compraria minha casa e, por último, compraria um carro.
Tudo bem que meus planos mudaram um pouco...
Mochilei pela Europa. Fiz uma pós graduação. Dois anos depois, aluguei um apartamento (e não tenho problemas em pagar aluguel, ter uma casa própria não é prioridade neste momento). Dois anos depois, viajei para a Europa de novo, Comecei outra pós graduação. Conclusão: não vou ter um carro tão cedo.
O fato de não ter um carro me permite algumas coisas na vida que talvez, quem dirija, não consiga perceber. Quando vou trabalhar, entro no ônibus e escuto as mais variadas histórias de vida estranhas, que não conseguem falar baixo e falam de toda sua vida afetiva, financeira e inimizades que possuem, destilando todo seu veneno. Não me enfio no celular, escutando músicas e ficando alheia a tudo que está acontecendo, é bem mais divertido ouvir a vida dos outros.
Ao caminhar da estação de trem até a escola, durante uns 10 minutos, consigo conhecer todas as casas da vizinhança, as que tem cachorro, ver qual delas eu até gostaria de morar e sentir o cheiro bom de feijão que está sendo cozido na hora. E o mais triste de tudo é que não vejo outras pessoas fazendo isso. Todas estão nos seus celulares, com a cabeça baixa, sem perceber quem passa ao redor.
Mas a melhor parte está na volta pra casa:

Nos dias de ensolarados, sou contemplada por um lindo pôr-do-sol, que colore o céu, cada dia com uma cor diferente, e não tenho que ficar cuidando o trânsito, posso contemplá-lo o tempo que quiser, no ritmo que quiser. E quando chove, vou me acalmando, vendo as gotas caírem nas poças, vendo-as serem iluminadas pelos postes de luz que vão acendendo. Vejo as pessoas nos carros, e elas não estão vendo isso. Olho as pessoas no ônibus, e elas não estão vendo isso. Todas elas estão perdendo a beleza que há em ver uma garça caminhando perto do dilúvio.
Diariamente, vejo os aviões subindo de descendo perto do Laçador e me dou conta de uma outra coisa:
Vou continuar pagando aluguel, vou continuar usando transporte público, vou abrir mão de ter casa e carro, pra viver outros lugares fora do Brasil, em que o caminhar e o contemplar a natureza, a vizinhança, o desconhecido, ainda é valorizado.
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